2015 e o Desporto Nacional: A Equipa (parte II)

Uma geração, por muito que se queira, nunca é eterna. O tempo corre, a idade pesa. O hábito de ver o talento eterno de Alan ou Madjer a emergir nas praias portuguesas Verão após Verão esbarra na falta de um título mundial. E o fracasso de 2012, quando nem nos qualificámos para o Campeonato do Mundo do ano seguinte, pode ser um sinal de que tudo tem um fim.

Ano de 2015. Mário Narciso já havia, entretanto, assumido o cargo de Seleccionador. O Campeonato do Mundo teria lugar em Espinho. Em casa. Talvez a última grande oportunidade de se sonhar com um grande título que teima em escapar à Selecção Nacional de Futebol de Praia. O grupo, pelo menos, é acessível. A estreia corre bem, com Portugal a vencer o Japão (4-2). O jogo seguinte, porém, lança algumas dúvidas. O Senegal (5-6) surpreende a Selecção Nacional, num jogo onde o aspecto mental acabou por fazer toda a diferença. Regressam as incógnitas. Terá sido um mero acidente de percurso? O jogo final diante da Argentina (7-2) dá a entender que sim. Espera-se que a complacência se tenha quedado pela fase de grupos.

Segue-se a vice-campeã Suíça, sabendo que o Brasil, qual "besta negra", deverá ser o adversário seguinte. Um jogo de cada vez. A irreverência de Ott e a experiência de Stankovic causam dificuldades, mas o hat-trick de Madjer desbloqueia o jogo (7-3) e encaminha Portugal para as meias-finais. A Rússia, uma das favoritas em prova e que recentemente nos havia batido em Baku, eliminara o Brasil e marcara confronto para discutir o acesso à tão ambicionada final. A força do adversário é notória. Mas são os ânimos exaltados dos russos, juntamente com a ajuda dos suplentes portugueses, a decidir o jogo (4-2) e guiar-nos à final. Desta vez não há Brasil. Menos mal. Sonha-se. O Tahiti, em ascensão na modalidade, batera a Itália nos penáltis e seria o derradeiro oponente. 

Três segundos e já se festeja no areal da praia de Espinho. Belchior e Coimbra dilatam a vantagem e o marcador já vai nos três, sem que o Tahiti consiga reagir. As coisas correm de feição. Mas quem chega à final nunca desiste. Um jogador do Tahiti falha escandalosamente uma recarga em zona frontal, já com o resultado em 4-3, depois de Bruno Novo, entretanto, ter feito o gosto ao pé. Como a história poderia ter sido bem diferente... Talvez tenha sido obra destino. Alan, com um chapéu de grande categoria a segundos do fim, decidiria a final. O que Madjer iniciou, Alan terminou. Mais uma coincidência? Talvez. Mas esta foi mesmo simbólica. Soa o apito final. Celebra-se em campo e nas bancadas. Os "Heróis da Areia" sagram-se campeões mundiais pela primeira vez e arrecadam a terceira competição FIFA em toda a história da FPF.

À conquista do título mundial, antecedida semanas antes pela medalha de bronze conquistada nos Jogos Europeus de Baku, junta-se mais tarde a vitória sobre a Ucrânia (5-4) na final da Superfinal da Liga Europeia. Como se já não bastassem os títulos colectivos, Portugal é plenamente reconhecido na Gala Internacional da modalidade, arrecadando os prémios de Melhor Jogador (Madjer), Melhor Treinador (Mário Narciso) e Jogador em Ascensão (Bé Martins). Um ano para mais tarde recordar.

Está na hora. Temos tudo, tudo a nosso favor. Jogamos em casa e estamos motivados. Pela brilhante carreira que fizemos em Baku interiorizámos que somos uma das melhores equipas do mundo. Sinto que podemos bater qualquer equipa. [Madjer, antes de Portugal disputar o Campeonato do Mundo]

Embora nem sempre haja o devido reconhecimento e mediatismo, todos os anos há equipas que se superam e que orgulham a nossa pátria. E nos últimos tal tem sido uma constante. Desde mais um excelente ano para a Selecção Portuguesa de Ténis de Mesa, que conquistou a medalha de ouro nos Jogos Europeus de Baku e outras quatro, entre as quais uma de ouro, no Campeonato Europeu, um bom indicador para os Jogos Olímpicos que se avizinham, passando pelo talento mais jovem da Selecção Nacional Universitária de Andebol, 100% vitoriosa e medalha de ouro nas Universíadas de Gwangju, e da Selecção Sub-20 de Hóquei em Patins, que renovou o título mundial em solo espanhol, motivos não faltam para acreditar que Portugal poderá continuar a dar cartas nas diferentes modalidades e que a próxima edição dos Jogos Olímpicos não ficará manchada pela ausência de medalhas. Contudo, pelo feito histórico, pelo peso simbólico e por ter quebrado a malapata de "morrer na praia", literalmente, houve uma equipa que mereceu mais esta distinção. É a Selecção Nacional de Futebol de Praia a melhor Equipa de 2015.
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